Tankard Oitocentista, de prata e marfim

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Caneca "Tankard" de prata de 813/1000 e marfim esculpido. Decorada com motivos militares e zoomórficos. Interior em prata dourada. Falta da lança da figura de topo e sinais naturais de uso.

Dim: 43 x 28 x 17 cm; Peso: 3.285 g

Corpo cilíndrico de marfim esculpido em alto-relevo, com cena de batalha europeia pré-oitocentista e flora norte-europeia.

Notável presença de carvalho esculpido no segmento posterior do marfim.

Tampa, base e pega de prata com motivos neo-barrocos de herança "ferronnerie" oitocentista, com destaque para esta última com motivo quimérico.

Marcado "13", segundo o sistema germanófilo de Loth. Punção "Pinha", atribuível à cidade alemã de Hanau, século XIX. Curiosa presença de uma "tremolierstrich", o equivalente alemão da portuguesa "bicha" ou burilada, usada para testar o teor da prata.

Quanto à análise histórico-iconográfica, conseguimos apurar que figura de topo é Arminius [nome latinizado, sendo o nome original Hermann der Cherusker (Hermann do clã Cherusker)], comandante das tropas teutónicas na Batalha da Floresta de Teutoburgo contra as forças invasoras romanas, comandadas por Publius Quinctilius Varus, que embora tivessem a missão principal de conquistar a Germania, foram destruídas pelos locais.

No século XIX foi erguida uma gigantesca estátua em homenagem a Arminius, de nome ‘Hermannsdenkmal’, voltada para França, então encarada como grande inimiga do projeto nacional alemão. Era a construção do mito do "Pai Original dos Alemães", como Ulrich von Hutten o apelidou. Uma multidão de trinta mil pessoas assistiu, em 16 de agosto de 1875, à inauguração da estátua de 56 metros de altura”.

Em algumas gravuras da época está presente o carvalho cortado ao pé da perna direita de Hermann (sendo o carvalho um símbolo da força de Zeus e por consequência a do Império Romano) tal como o próprio facho do SQPR, ou ‘Senatus Populusque Romanus’, caído nos pés do ‘Pai da Germania’.

O episódio bélico que está representado em alto-relevo nesta peça é a ‘Batalha da Floresta de Teutoburgo’, que preveniu a romanização destas populações endógenas do Reno, rio este também representado nesta obra.

A espécie arbórea na traseira do Tankard é o carvalho, indo ao encontro da restante iconografia, sendo uma das espécies arbóreas endógenas da região, tal como as figuras com os elmos alados, que são os teutões, vencendo consecutivamente as forças romanas, representadas também pela figura com a pele de animal.

Este episódio da Batalha da Floresta de Teutoburgo é de extrema importância para a Alemanha da segunda metade do século XIX, representando uma das maiores vitórias da Germania ‘tema e ideia mais tarde extrapolados durante o III Reich’ e simbolizando, para os nacionalistas alemães oitocentistas, uma Alemanha ‘una e livre’.

Tendo sido esta peça provavelmente criada na cidade de Hanau – um estado com uma história política conturbada até ao século XIX, onde foi anexada à Prússia até 1945, após perto de 8 séculos de relativa independência, a importância política e ideológica deste objeto é fortemente reforçada, sendo um notável pedaço da história política da Europa Central do século XIX.

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